terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

PELA MEMÓRIA DE UM POVO E POR JUSTIÇA AO NOSSO MAIOR POETA

Todo patrimônio cultural, seja ele tangível ou intangível, precisa ser preservado, fomentado e fortalecido. Esse é um compromisso que todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal) deveriam priorizar. E todos os governos sabem que devem isso aos grupos organizados, aos artistas e, principalmente, a sociedade. No entanto, a cultura sempre esteve à margem das prioridades e, junto com ela, uma enorme parcela da sociedade que carece de bens culturais; um grande contingente de pessoas que tem fome de leitura, cinema, teatro, memória, etc. Pessoas que vivem no mais pacato e insensato estado de miséria cultural, sem perspectivas, tendo corroídas suas possibilidades de acesso aos bens culturais e à informação com conteúdo de qualidade pelo descaso cultural histórico e proposital dos governos e da elite que os sustenta. Isso lembra o pensador alemão, Karl Marx, quando dizia que o movimento da História-Cultura se realiza por meio das lutas de classes sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social e dominação política. O fato é que, mesmo com muita luta, historicamente, os movimentos sociais, assim como os poetas, artistas e grupos culturais sempre foram marginalizados, desrespeitados pela classe dominante de mercenários e burocratas.
Exemplo desse desrespeito com toda a sociedade paraense é o estado atual que se encontra a antiga Casa do Poeta, na rua Siqueira Mendes, em Icoaraci. A casa que deveria ser, pela sua forte simbologia, um espaço dinâmico da linguagem literária ou de realização de atividades artístico-culturais permanentes, não passa de ruínas invadidas pelo matagal da área que cresce a cada dia, destruindo os restos mortais do prédio, dando, ao mesmo tempo, lugar a uma paisagem urbana desastrosa, fedida e aterradora.
Esse descalabro do patrimônio histórico teve seu processo desencadeado ainda na gestão dos governos Almir/Jatene, quando o prédio era administrado pelo Conselho Interativo de Segurança e Justiça – CISJU. Nos anos de 2003 e 2004,o prédio, algumas vezes, chegou a ser utilizado como espaço para a realização de oficinas de arte-educação em parceria com a, hoje, quase extinta Fundação Cultural do Município de Belém – FUMBEL. Mas já se encontrava em perfeito estado de abandono. A partir daí, ninguém sabe, ninguém viu. O descaso continua e até agora não se tem nenhum parecer do atual Governo do Estado que, não muito diferente do governo passado, é ótimo de retórica e péssimo de ações.
A verdade é que a Casa do Poeta se transformou num verdadeiro antro receptador das pútridas mazelas sociais. Virou a casa da “Mãe Joana”, ou pior, a casa dos indigentes emporcalhados, dos puxadores de fumo, da prostituição improvisada, da violência sexual, etc. Ou em outros termos, a casa do poeta se transformou na CASA DO ESTUPRO! Não só do estupro literalmente carnal, mas do estupro da dignidade e da memória histórica de um povo que, nesse caso, se alicerça no patrimônio histórico (a casa) e num outro tipo de patrimônio cultural (a poesia, a música, a dramaturgia) produzido por um dos maiores expoentes da cultura e da literatura desse Estado: o poeta Antônio Tavernard.
Desse modo, a reforma da casa do poeta seria a resposta mais sensata do Governo do Estado à sociedade paraense. Além disso, se faz urgente e necessário que os governos deixem de lado a retórica estrategicamente calculada e a burocracia, principalmente quando tratarem de assuntos relacionados à cultura, pois todos os artistas e produtores culturais sabem que desculpas esfarrapadas e exacerbo de burocracia não combinam com cultura.
Portanto, agora que o estado do Pará é “Terra de Direitos”, a população que tem e os que terão conhecimento da real situação da casa do poeta, com certeza querem que o “governo popular” tome as devidas providências não só pelos seus caprichos políticos, mas pela cultura, pelo direito da sociedade, pela memória de um povo e por justiça ao nosso maior poeta.

Evanildo Mercês

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O QUE SIGNIFICA UM ANO NOVO?

Os seres humanos costumam falar coisas, cujo conceito ou significado do que é dito passa despercebido, sem que se possa fazer uma reflexão mais cuidadosa daquilo que se diz e também daquilo que se faz.
Final de ano é sempre besuntado de muitas festas, bem como se configura como um momento perfeito para a proliferação de promessas e demagogias, cuspidas por todos e para todos os lados. É o tempo em que o espírito de solidariedade e fraternidade se manifesta vigorosamente, chegando até a aparentar uma energia uníssona e permanente no caminho de uma forte esperança pela união, amor e paz entre os homens. Contudo, para a infelicidade de todos, toda essa corrente fraterna, apesar de seu inestimável valor, muitas vezes acaba se revelando como o nível mais alto da hipocrisia e da mediocridade humana.
Frases como “feliz natal e próspero ano novo!” são comuns nessa época. Mas qual o significado disso se digo apenas “da boca pra fora”? pouco me importando se aquela pessoa para qual digo “feliz ano novo” será ou não feliz!
Aí é que começa o primeiro ato hipócrita do ano, pois começamos o ano novo já falando coisas sem saber da sua alta relevância, porque falamos coisas “da boca pra fora”; porque a coisa “da boca pra fora” não é sentida e nem vivida; porque estamos acostumados a reproduzir bordões e slogans do modismo pérfido e perverso de uma sociedade carcomida pelo consumismo exacerbado; porque começamos o ano dizendo mentiras para nós mesmos. Enfim, não conseguimos ainda nos perceber individualmente como seres parte de uma coletividade e, logo, não conseguimos compreender minimamente a realidade violenta da qual a coletividade faz parte.
Não se pode dizer “feliz ano novo” para o outro, se colocando apenas no seu lugar – este pedestal inviolável da vaidade e do egoísmo. Um “feliz ano novo” tem mais sentido, quando nos colocamos no lugar do outro, com o intuito exclusivo de compreender a sua realidade que também, de algum modo, faz parte da minha realidade. Um “feliz ano novo” dito “da boca pra fora”, além de ser falso, automaticamente já contribui para que o próximo ano seja trágico e impiedoso com a humanidade. Quando se deseja verdadeiramente “feliz ano novo”, estamos dando ênfase naquilo que temos de mais valioso dentro de nós: a verdade. O Filósofo grego, Platão, dizia que os verdadeiros filósofos são aqueles que amam a verdade. No mundo de hoje, em que a injustiça se fortalece entre os homens como fruto da mentira, há uma enorme necessidade de começarmos o ano falando a verdade, pois os homens, mesmo os que não são filósofos, precisam se apaixonar pela verdade. Os seres humanos poderiam iniciar o ano falando a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade, ainda que fosse a sua verdade individual, mas que fosse a verdade.
Todo ano novo é uma nova chance de verdade para a humanidade. Alguns podem achar essa assertiva romântica, mas todos os homens deveriam dar mais valor às novas chances. É a chance de negar propina ao fiscal, ao policial, ao guarda de trânsito, moralizando todo e qualquer tipo de aparato relativo a segurança. É a chance de reivindicar os direitos a saúde, educação, cultura, saneamento, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida. É a chance de todos olharem para si e rever conceitos. Buscar na verdade a solução dos problemas que afligem a sociedade.
Ainda que esse pequeno artigo pareça hipócrita, nas suas entrelinhas deve conter linhas de verdade, assim como a verdade deve está nas entrelinhas do ano que se inicia. Este pequeno artigo também não tem a intenção de dá lição de moral a quem quer que seja. No entanto, todo ser humano deve saber que um mundo melhor é possível e, para isso, todos devem fazer a sua parte, visando uma transformação que se faz urgente e que seja interessante à toda a humanidade. Sendo que essa transformação começa pelo policiamento das mentiras que contamos, lemos e ouvimos diariamente. Nesse caso, a atenção é imprescindível e, para tanto, é importante saber que a mentira é incompatível com a realidade e a verdade é reflexo do real.
Temos uma nova chance para a verdade, que começa por nós. Isso significa ser solidário e fraterno de verdade, ser tolerante e generoso de verdade, agindo com equilíbrio e prudência, tendo como princípio uma ética fundamentada na prática das virtudes.
Portanto, para todos e por todos nós, Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O MEU AMOR

O amor, o amor, o amor...
Quando algo nasce, o amor renasce;
Quando algo morre, o amor comemora.
O amor é um milagre que do céu desce,
Uma lágrima independente que não chora,
Que nunca seca, que alto se devora;

Quando cai uma flor, o amor apara;
O amor é uma cicatriz que nunca existiu,
Quando existe amor, o vento separa;
É uma cinza que no ar se esvaiu;
Uma grande ilusão que o tempo ampara.

O amor, o amor, o amor...
É um grande ferimento que nunca se sara,
Uma grave doença, úlceras de catapora;
É um instante de luz, velocidade que não pára;
Um fenômeno mágico de outrora
Que nasceu, nunca viveu, mas ressuscita no agora.

O amor só existe na origem e na lembrança.
Ele é apenas esforço da existência,
Um sonho alimentado pela esperança,
Fantasia desgastada pela insistência,
Que ama em sonhos e morre na resistência.


A Peleja dos soca-socas João Cúpú e Zé Bacú, do Grupo Gruta de Teatro.

ARTIGOS

CHALÉ TAVARES CARDOSO: BIBLIOTECA OU A CASA DO ESPANTO ?

Quem passa pela Rua Siqueira Mendes, esquina da Travessa São Roque, em Icoaraci, com certeza deve sentir uma profunda dor de indignação ao ver tamanha displicência do poder público para com um dos mais importantes patrimônios históricos e culturais da cidade.
A Biblioteca Pública Municipal de Belém “Avertano Rocha”, abrigada no Chalé Tavares Cardoso, antes referência como espaço de realização, fomentação e difusão da diversidade cultural na cidade, atualmente sofre um retrocesso em seu funcionamento quanto espaço estimulador da leitura, da criação e de mecanismo de transformação social. O efeito negativo desse golpe atingiu diretamente a sociedade e os movimentos culturais, principalmente os estudantes, grupos de teatro, dança, capoeira, RPG e poesia, que necessitam do espaço para pesquisar, produzir e mostrar seus trabalhos artísticos.
O descaso generalizado da direção da instituição, afinada com os quase quatro anos da fraca administração municipal, não se restringe apenas ao acesso limitado para a pesquisa ou à reforma interminável do prédio, mas, sobretudo, à extinção dos serviços de extensão, a exemplo do Ônibus e Barco Biblioteca, que atendiam às necessidades de informação e leitura das comunidades carentes da periferia de Belém e áreas ribeirinhas; e dos projetos artístico-culturais de cunho social desenvolvidos e direcionados às crianças, jovens e adolescentes em situação de risco.
Essa “chacina” contra a arte e a cultura, é reflexo do despreparo técnico e da falta de conhecimento da realidade social. Se caracteriza até mesmo como crime porque infringe diretamente a Constituição Federal, que garante ao cidadão o direito de ter acesso à arte, à educação, à cultura e ao lazer. Mas parece que o atual prefeito, que desde a última eleição municipal promete tanto em investir na educação de Belém, não leu a Constituição Federal.
Dessa forma, não há como não se sentir ofendido diante dessa concepção ultrapassada, conservadora, com ar autoritário e visão desumana. É ultrapassada porque pensa biblioteca nos moldes tradicionais, como depósito de livros. É conservadora e autoritária porque pensa cultura isoladamente, de cima para baixo, sem diálogo e sem interatividade com a comunidade. E é desumana porque tira um bem imprescindível na formação da consciência crítica do ser humano, que é a informação. A informação dá poder, mas não me refiro ao poder de oprimir o outro, e sim do poder de conhecer a si, respeitando as diferenças dos outros no intuito de construir uma cultura de paz, de dignidade e ética nas ações. Nesse caso, a leitura é o melhor caminho, pois como já dizia o nobre poeta Mário Quintana: “Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros mudam as pessoas”. Mas creio eu que o nosso prefeito também não leu Mário Quintana.
A concepção anti-cultural, fruto da insensibilidade e da ignorância da administração de Duciomar Costa (que foi apoiado pela milionária Valéria, a “Madre Tereza” do Demo, que se diz traída pelo Dudu), que é cega, surda, muda e se mostra completamente mórbida diante da atual situação da nossa biblioteca, além de destruir os bons projetos sociais deixados pelo ex-prefeito Edmilson Rodrigues, extinguiu o museu de cultura popular e provocou um distanciamento de grande parte dos usuários que direta ou indiretamente usufruíam das ações de lazer e entretenimento voltados para a prática da leitura, como: espetáculos de teatro, encontros com escritores, sessões de cinema, etc.
Essa administração conservadora – para não chamá-la de burra –, já demonstrou em várias ocasiões a sua incapacidade de diálogo com os movimentos sociais e a sua incompetência nas ações consideradas salutares à cidade, e é impossível não perceber a forma covarde e irresponsável, com a qual esse governo municipal conseguiu desestruturar toda uma concepção de biblioteca que estava fundamentada na construção de uma política de inclusão social, igualdade e promoção da paz. A verdade é que enquanto presenciamos acomodadamente a queda gradativa do Chalé, a prefeitura asfalta onde já tem asfalto. Ou alguém é idiota a ponto de acreditar que as travessas Cristóvão Colombo e São Roque precisavam ser asfaltadas? Se era para asfaltar alguma rua, por que não asfaltou as ruas do Paracuri ou as várias baixadas que alagam no Distrito? Por que não fez pelo menos a manutenção da nossa orla que está abandonada? Onde estão os vereadores: Armênio, Mário Corrêa e Salma Nassar? E o Croelhas, antes de se candidatar, não era o agente distrital? Onde estavam estes, que em época de campanha, tanto amam Icoaraci? Isso é revoltante! É nojento para um ser humano sensato. Sem querer ofender ninguém, mas tenho que dizer: “Só um imbecil não é capaz de perceber que está a quase quatro anos sendo enganado”.
Infelizmente, para toda a população de Belém e, principalmente para a comunidade icoaraciense, hoje o Chalé Tavares Cardoso não possui sequer características de uma biblioteca tradicional, mas apresenta uma atmosfera aterrorizante semelhante a da “casa do espanto”.
A Biblioteca Pública Municipal de Belém “Avertano Rocha”, a despeito do que muitos pensam, é atualmente o retrato de um ambiente semiânime, de fachada pacata e grotesca, cujo prédio sufoca os livros onde as letras se transformam em pó, enquanto o verbo embarga na garganta do silêncio, pedindo socorro!

Evanildo Mercês